E se tudo
desse certo sempre, como saberíamos o valor de um sorriso feliz?
Depois de
muito me decepcionar, depois de muito chorar, me entregar sem me amar – sem que
me amassem – eu finalmente descobri o verdadeiro sentido da palavra amor. Não,
não foi assim fácil, não foi ficando em casa todos os dias, assistindo filmes
sozinha. Nem saindo p’ras baladas, para as noitadas. Foi de um jeito único, de
uma forma inesperada. Ele chegou no momento que eu menos esperava. Aliás, todos
que me fizeram bem por um momento chegaram em um momento que eu não esperava, a
diferença dele, é que ele ficou.
Em um dia normalmente
comum, eu levantei da cama com aquela velha cara amassada, como se dormisse há
dias, sentei na beira da cama, com os pés suspensos, balançando-os como se
houvesse bastante ansiedade em mim – talvez no fundo minha alma já soubesse
quem eu iria encontrar mais adiante – então eu esperei que aquela preguiça
matinal passasse para que eu começasse a atuar. Levantei-me, lavei o rosto,
confesso que aquele dia me olhei no espelho e jurei que iria sair sem esperar
nada – parece clichê, mas eu realmente não esperava nada – voltei para o quarto
e coloquei uma roupa, a mais solta que encontrei, olhei para a cama e a deixei
como estava, desforrada. Procurei algumas moedas no bolso da minha bolsa e fui
à padaria comprar o que eu chamo de café da manhã, coloquei meus fones,
aumentei o volume do celular e sair.
Minhas
vistas estavam concentradas em imagens que passavam em minha mente, lembranças
e planos que projetava enquanto caminhava. Do outro lado da rua, estava ele, o
que vocês insistem em chamar de príncipe encantado, eu o chamo apenas de “Cara
comum”, aquele que mudaria meus dias, à partir dali. Ele estava concentrado nos
carros que passavam, esperando uma oportunidade para cruzar a rua. Finalmente
quando conseguiu, ele veio em minha direção, eu percebi que alguém vinha
olhando fixamente para mim e decidi ver quem era, olhei cuidadosamente para seu
rosto, e como relâmpago eu abaixei a cabeça novamente “Não acredito, para para
para para... que olhos são esses? “ eu realmente tremi ao ver tão belos olhos
negros e redondos me olhando, com um leve sorrisinho no canto da boca. Não
podia permitir que ele percebesse que eu estava atônita. Ele se aproximou de
mim, eu o olhei e percebi que suas mãos corria para minha nuca, então ele puxou
algo de trás da minha blusa, eu me assustei e tentei ver o que era, ele abaixou
a cabeça próximo aos meus ouvidos e sussurrou:
- Moça, acho que sua blusa está pelo avesso.
Sorriu, e
seguiu seu caminho.
Como eu pude
deixar isso acontecer? Ele era o cara certo. Tão lindo. Alto, esbelto, pele
clara, olhos negros, apertados, redondos e cabelos escorridos e pretos. Não
acredito que perdi a oportunidade. Segui reclamando da minha falta de atitude e
de atenção por ter saído de casa sem perceber que meu blusão estava com as
etiquetas à mostra.
Esqueci que queria
comprar um café da manhã e continuei caminhando como se não tivesse rumo.
Sentei-me em um banco vazio que tinha logo ali e constrangida continuei a me
culpar por ser tão desastrada. Senti que alguém estava no banco de trás, rindo
baixinho das minhas reclamações, era ele novamente. Olhei para trás e percebi
que aquele cara lindo que havia me feito passar um dos momentos mais constrangedores
possíveis, estava atrás de mim, ouvindo meus desabafos e o pior “rindo” deles.
A solução que encontrei foi perguntar se ele conhecia algum lugar que eu
pudesse apenas concertar meu blusão, ele sorriu e disse:
- Não, não conheço, não sou daqui. Mas, não se importe, ainda assim ninguém seria capaz de enxergar esse detalhe, com tanta beleza que você tem em seu sorriso.
Eu sorri novamente – claro estava sem graça – e disse:
- Não, não conheço, não sou daqui. Mas, não se importe, ainda assim ninguém seria capaz de enxergar esse detalhe, com tanta beleza que você tem em seu sorriso.
Eu sorri novamente – claro estava sem graça – e disse:
- Você
percebeu!
Ele sorriu,
balançando a cabeça como quem diz: “Eu percebi, apenas eu” e então começamos a
conversar, tudo foi fluindo éramos bastante diferentes, mas era justamente isso
que me chamava a atenção nele. Ele não se importava em ser diferente, nem ao
menos em eu ser diferente. Nossa
conversa rendeu até a noite, era como se nos conhecêssemos há anos. Acho que em
outras vidas, talvez se realmente existir, nós já havíamos nos cruzado antes.
Ele deixou o
número do telefone comigo, eu liguei no outro dia, era um domingo, o convidei
para almoçarmos juntos – afinal morar sozinha é um saco às vezes – e foi
justamente essa a desculpa que eu lhe dei para que não ficasse parecendo um
convite a um encontro (risos).
Ele foi
pontual. Quando olhei da janela do apartamento, lá estava ele parado do lado de
fora, encostado na porta do carro, estava simples, de camisa branca, chinelos e
uma bermuda linda que o deixava tão sexy.
Almoçamos,
pagamos a conta -aliás, ele pagou a conta -
e saímos. Ali, ele me deu o primeiro beijo (Mas eu havia prometido que
não iria me entregar a mais ninguém por agora...), dane-se, lá estava eu,
retribuindo aquele primeiro beijo de muitos outros que vieram e virão.
Benjamim
passou a fazer parte dos meus dias. Assim, sem perceber. Como se houvéssemos
marcado no calendário que à partir dali seriamos dois, em um. Foi assim que eu
percebi que se tudo tivesse dado certo sempre, eu jamais iria valorizar esse
momento que me faz tão feliz. A vida nos prega peças que só ela mesmo sabe o
porquê, e nós só saberemos – se soubermos – depois.
Ele, o Benjamim,
mudou meus dias solitários. Mudou minhas rotinas de uma solteira, sozinha e
feliz, para uma sozinha feliz a dois.